15.6.16

Barracuda

Uma barragem de fogo de artifício.
A barba rala e ruiva do pescador.
A fanfarra no ensaio, alheia à rua.
A bandeira vermelha avisa o mar impossível.
Um tiro de estopeta, ao longe.
Um homem de saias (deve ser escocês).
A árvore que desabrocha, temperando a luz.
Um livro deixado no banco do jardim.
O pescador da barba ruiva apanha o livro.
O livro tem imagens de pescas antigas.
O pescador folheia um livro, coisa rara.
Uma velha vestida de negro olha, desconfiada.
Um cão perdido erra pelas ruas, faminto.
O jornal traz na capa notícia jubilosa.
O tiranete continua na prisão, e está doente.
No banco transacionam-se cheques pré-datados.
O condutor de táxi ouve música ruidosa.
Uma noiva entusiasmada lança o bouquet.
O mar tempestuoso é testemunha.
O marinheiro da barba ruiva embarca.
Leva o livro na bagagem.
O comandante solta três foguetes.
Os outros marinheiros olham-no de través.
As flores deitadas pela noiva perdem-se no mar.
Vão agarradas ao casco do navio.
Foram comidas por uma barracuda.
Que se saiba, a barracuda não desposou.

Sem comentários: