13.6.16

A casa sem telhado

Segue-se ao cais amarelecido
onde vêm receber amparo
os navios fantasmas.
Do cais tem-se a vista da casa sem telhado
– a casa centrípeta que empresta o luar à cidade.
Dizem que tem habitantes.
Dizem que lá dentro
a chuva não molha o chão.
Dizem as lendas todas que a imaginação
concebe.
A casa sem telhado respira as heras
que trepam às paredes encardidas
enquanto a luz diurna se insinua
entre os seus cantos bolorentos.
Dizem:
que os fantasmas se apoderaram
da casa destelhada.
E que são eles que teimam
em deixar nua de telhas a casa moribunda.
No refluxo do vento
entre dois murmúrios de andorinhas assustadas
a casa sem telhado emproa-se
desde o seu lugar miradouro.
Dizem:
que ninguém tem coragem
para lhe consertar telhado
ou para a encomendar ao túmulo do entulho.
Um impasse,
é o que é.

Sem comentários: