Uma
bagatela
três
doses de chuva no alpendre
e
os cães lá fora, tresloucados.
O
ministro enfatuado
mais
o deputado da oposição
contorcendo-se
com intolerância.
O
sol sem dó
limpando
os vestígios da chuva extemporânea.
Uma
liceal a mastigar pastilha elástica
em
ofensa à estética.
As
sumidades catedráticas
ostentam
o garbo e o pundonor
à
espera de genuflexão a condizer.
O
escritor desespera
no
fulgor da desinspiração
tomado
pela apoplexia da hibernação.
Da
sua toca
alcoviteiros
avarentos
(na
avareza do seu iletrismo)
farejam
os dejetos da sociedade bem-posta.
No
altar engalanado
o
sacerdote persigna-se como prefácio
da
confissão dos desvarios carnais.
O
rio aborda o cais
pressente
o musgo húmido, que não toca.
As
mãos suadas beijam o trono arruinado
sem
saberem
que
de ruínas se trata.
Da
janela do elétrico
ao
passo do rio que desliza com vagar
a
velha cansada mete memórias em dia.
O
pescador nota
e
anota em caderno de pensamentos avulsos.
O
rio não se cansa
nem
quando o entardecer insinua o repouso
e
a noite madraça rompe com a intrepidez
dos
sentidos.
Há
horas
que
o pardal espera por migalhas
sem
saber que a esplanada está para obras.
Há
horas
que
o mendigo amputado espera
espera
que alguém o venha visitar
com
esmola para uma sopa diária.
Uma
bagatela que seja
no
soporífero dançar dos olhos amestrados
só
para a caridade não ser vã
e
ele não dormitar com o estômago encostado
às
costas.
Oxalá
os quadros do tempo
não
fossem hinos realistas
que
desassossegam o sono inteiro.
Oxalá
não houvesse melancolia
e
solidão
e
guerras espúrias
e
pobreza
e
ingratidão
e
desonestidade
e
mentira
e
dissimulação
e
tudo o resto que não quadra
com
a idílica paisagem de um mundo
(ideal).
Oxalá.
Mas
não somos feitos de oxalás.
Não
somos tutores da fina faiança
que
entroniza o amanhã com ouro puro.
Bebemos
o cálice com o que há
e
damos a beber na inexpressiva maré
de
onde aprouver fruto a recolher.
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