Não deixo
os sonhos falar.
Não os
deixo ter rédea.
Não quero a
pilhagem sem aviso.
Não quero
um palco cheio de espinhos.
Não quero
a jugular da vida apertada
por mordomos
sem rosto.
Sonhos sem
gramática
apenas sonhos
alçapão
precipícios
vorazes
polvos
famintos
em tentáculos
desdobrando-se no corpo transido.
Não quero
estes sonhos
os sonhos
suados
no coração
latejando em silenciosa ira.
Os sonhos
indomáveis
não convidados
e que
amesendam no leito frio
na desprotegida
nuca imersa no sono
sua vítima
sem direito de resposta.
Os sonhos
cavernosos
em vozes repetidas
num murmúrio intransigente.
Sonhos
tiranos.
Pois os
sonhos não se negoceiam
não admitem
uma vírgula à esquerda
ou um parágrafo
a destempo
ou um
verbo em forma modificado.
Sonhos
punhais
sem licença
pedindo a
carne
pedindo
ajuda a um cálice oxidado
onde se
vertem lágrimas
na equação
do sobressalto.
Refém dos
sonhos
às vezes
com medo do sono
por medo
dos sonhos pelo sono levitados.