9.2.18

A vitória

Não são falsos passos
nem sombras emaciadas
ou ventos sulfurosos:
se há dádiva por recolher
ela medra em mim
na recusa dos contratempos
na antítese da rocambolesca encenação
que apenas adia o dia. 

Emagreçam as sombras
outrora vestígios em demanda de exorcização.
Desvitimizem-se
os diligentes engenheiros dos prantos
cubram-se de ouro farto
os olhos incansáveis
as luas caiadas de pureza
os bolsos tingidos com a plenitude singular. 

Tomara o pretérito
ter sido leito de tamanho desassombro. 
E as costas preparadas
em montada sem espera
dissolvendo os lamentos tortuosos
como se fosse 
uma magnólia abrindo-se à luz clara
e as mãos 
subissem ao sol em generoso devaneio. 

Já não sei o que são sombras. 
Regozijo.

O desaviso das tempestades
cuida dos limites,
tecnicamente despromovidos a chão fértil
onde as flores sorriem até à noite. 
As cavernas estão arcaicas
já não esteios malsãos
já não
revés excruciante. 

A colher artesanal
tirou a espuma inútil
do moinho do tempo. 

Às sombras
encomendou-se jazigo. 
O museu da memória
não transige com o esquecimento
e fingir é um ultraje contumaz. 

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