1.2.18

O piano resplandecente

Por dentro deste motim
o sangue efervescente
desembaraçadas as facas afiadas
calados os sons guturais em verbo de ira.

De dentro deste motim
bolço ao mundo a ossatura matricial
e dos bolsos arranco as palavras gentis
contra os ferozes mastins da dissidia.

Ao fim deste motim
os jardins alindados onde a neve repousa
e os esquilos furtivos abrem nozes.

Amanheço à imagem das mãos
inteiras e açoradas
movediças
com a sede do mundo inteiro
no cruzamento dos ventos sem rumo
inventando dicionários, cores e frutos
e deixando à janela
na consagração da manhã demiúrgica
a seiva fecunda do febril estado nómada.

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