19.2.18

Amostra

Verto no copo alto
esta maré que transborda
dos círios de braços abertos.
Nos abetos há musgo infante
e eu sei tomar as asas de um pássaro
bebendo a paisagem com olhos desaforados.
Pudessem as molduras sair do sítio
ganhar tempo ao tempo
para as crianças serem perenes.
Pudessem as fronteiras escutar a música
precipitando-se contra si mesmas
no aceite de serem farsa.

E da boca quente
em sílabas não contadas
as palavras-âmago
servas
entoadas sozinhas
no cruo silêncio da noite.

O ritmo acelera no contrarrelógio
mais depressa do que o tempo
e as horas são o pavio de nada.
Nas guitarras distantes
atiro os dados à sorte
sei soletrar de trás para a frente
o compêndio desatualizado
onde estão sânscritos versos,
mitómanos.

Oxalá aprendêssemos:
os oráculos
refutam-se em suas profecias.

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