21.2.18

O corsário desarmado

Sinto-me corsário de mim mesmo:
trono visível das ideias
que depois se evaporam
na sua negação.
Corsário:
as roupas do avesso
as horas vividas em contramão
as palavras vertidas em antónimos
sem purgas malsãs
apenas o furibundo artesão das escolhas.
Corsário:
mas não farsante
na inviolável descerteza de tudo
penhor dos penedos perenes
fautor das mais frágeis escadas
no estertor dos compêndios sem audiência.
Conheço os rostos sem nome
e sei que dos nomes vertidos
sobram fingimentos
personagens
apenas personagens
(e as personagens são ardis)
inverosímeis enredos no escol estulto.
Serei corsário.
Ao menos,
corsário.

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