8.2.18

Descolorido

O que me podem dizer
esfíngicos olhares
gatos matreiros
lágrimas desnatadas
as palavras metodicamente sublinhadas
no tabuleiro descolorido?

O que me podem dizer
atrocidades sem rosto
as pedras lisas de tão gastas
o cobre escondido
as velhinhas que tremeluzem sua tristeza
nos xailes descoloridos?

O que me podem dizer
os bascos insubmissos
as marés sem freio
a carne bravia, tisnada, afoita
os copos altos cheios do vinho
retirado de vinhas descoloridas?

O que me podem dizer?

O que me podem dizer
que eu não julgue saber
por dentro de um oráculo frívolo
contra os mestres sapientes
contra os pesares desarmadilhados
na obnóxia condição humana?

Servem-se
as gotas todas da chuva
que não se recusa
um nada do tamanho do tudo.

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