28.2.18

Nadador-salvador

O incendiário
atento à fogueira que cresta
nado-morto deposto na clareira
onde as lágrimas se usam para extinguir
o fogo.

Ao fundo
depois da alcantilada ladeira
onde o vale recebe os sedimentos
o vagaroso rio traz nas mãos
as lágrimas do incendiário.
Mistura-as com os minerais volúveis
parafraseando os alquimistas:
“a fórmula certa não existe,
apenas um palpite
uma bala disparada na câmara escura.”

O incendiário foge:
corre sem parar
atravessa os vales
à espera de novos vales
desprende-se das lágrimas
nos muitos caudais banhado.
Foge dele mesmo
à espera de um fogo possante
que desfaça em cinzas
a vergonha impiedosa
em que seu sono se consome,
que liquefaça nos caudais dos rios
o façanhudo esgar melancólico.

O incendiário
despojado das suas artes
vê-se atirado
para os braços salvíficos
do nadador-salvador.

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