13.2.18

Sonhos tiranos

Não deixo os sonhos falar.
Não os deixo ter rédea.
Não quero a pilhagem sem aviso.
Não quero um palco cheio de espinhos.
Não quero a jugular da vida apertada
por mordomos sem rosto.
Sonhos sem gramática
apenas sonhos alçapão
precipícios vorazes
polvos famintos
em tentáculos desdobrando-se no corpo transido.
Não quero estes sonhos
os sonhos suados
no coração latejando em silenciosa ira.
Os sonhos indomáveis
não convidados
e que amesendam no leito frio
na desprotegida nuca imersa no sono
sua vítima sem direito de resposta.
Os sonhos cavernosos
em vozes repetidas num murmúrio intransigente.
Sonhos tiranos.
Pois os sonhos não se negoceiam
não admitem uma vírgula à esquerda
ou um parágrafo a destempo
ou um verbo em forma modificado.
Sonhos
punhais sem licença
pedindo a carne
pedindo ajuda a um cálice oxidado
onde se vertem lágrimas
na equação do sobressalto.
Refém dos sonhos
às vezes com medo do sono
por medo dos sonhos pelo sono levitados.

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