É este olhar inquieto
acometido por madrugadas baças
que levanta âncora à angústia.
O grito que cala fundo
vertido desde o avesso da garganta
as palavras tomadas pela abundância
uma certa soberba sem bainha
o cósmico destravar dos carris fulminantes
na leitura de um livro sem história
nas suas alvas páginas à espera de autor.
Sabia das paredes viés
no navio encalhado
e ouvia o murmúrio do mar em sossego
à espera que se congeminasse a tempestade
e o navio fosse despedaçado
à mercê das ondas altivas.
Podia ser produto
da fábrica dos pesadelos:
um rumor sem rosto
a máquina de escrever enferrujada
sobre uma mesa apodrecida
a toalha amarrotada e enodoada
as manhãs parecendo o melancólico ocaso
as espingardas
deitadas nos arbustos ressequidos
a matéria inverosímil dos estroinas
contra a árvore centrípeta
de onde partem
as bissetrizes no mapa desembrulhado
a voz doída, cansada.
Visitei o lugar onde há romagens
e não entranhei o mito.
O olhar inquieto
deita-se sobre paredes mais altas
e traz de volta histórias sem fim.
Oxalá sejam dourados
os dedos assim contados
e as artes não capitulem aos beócios.