26.5.18

Imperial

Um peito nu
o meu peito nu
cais
o cais de perto
na praia
praia limítrofe
beijo
um beijo na tua boca
fonte
a fonte onde para a sede
a ternura
ternura-fortaleza
poema
o poema que sela as palavras
palavras
estrofes-quimera
as estrofes acesas com as mãos
altar
o altar das pedras inamovíveis
âncora
a âncora que desenha nossos braços
na dança
dança que me ensinas
à madrugada
madrugada crepuscular
a madrugada crepuscular
que desembacia os medos 
e cristaliza as lágrimas
estátua 
a estátua onde nos imortalizamos
mar
o mar
este imenso mar
beijado pela janela
ou a janela a acreditar
a janela a respirar a maresia
e os poros
os poros suados
o suor que é nossa respiração 
os poros
abertos ao mundo inteiro
o suor vertido no amplexo dos corpos
transidos
docemente lúgubres
os corpos guerreiros
feiticeiros das pétalas hasteadas
a varanda
varanda epistolar
os olhos arremetidos ao vazio
e um todo vem às mãos
no entardecer
o entardecer vínico
o canto
canto luminar
poema expoente
o poema expoente dos deslimites
poeira
a poeira arrumada nas catedrais
e as abóbadas ungindo os dedos
em anéis arqueados
anéis arqueados na vontade nossa
à espera da noite
a noite infante
véspera do sono
o sono que industria os sonhos
sonhos acastelados
na pele fria, noturna
na constante entrega
mar adiante
sem a morte por perto
a vida rosácea tatuada no olhar.

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