2.5.18

Maio com meio século de atraso

Destrato a púrpura chama
na incomum xávega que tomo,
minha proteção contra golpes invisíveis.
Obtenho o distrate
a compensação de um aforro demorado
na subtileza do tempo arrastado. 
Olho para o banco gasto do jardim
e noto na metáfora
de toda uma ideia de banca decadente.
O marégrafo que tenho entre mãos
acinzenta as ondas ainda timoratas;
que ninguém ajuramente
que o estado das coisas tende a melhorar:
à superfície 
uma espuma amarelecida
supõe o contrário. 
Os magnatas já não têm vergonha
ou o maio de sessenta e oito chegou
e silenciosamente
com meio século de atraso
a conspiração dos despojados 
encontrou militância nos jornais. 
No perjúrio da insubordinação,
com patrocínio de outros 
que o poder querem conservar,
um simulacro de equidade
como se pelas janelas 
cruzassem ares respiráveis. 
Desconfio
que na hora dos inventários
as cores continuam 
com os mesmos pergaminhos. 
E o destrate 
não embainhará 
nenhum distrate.

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