8.5.18

O todo e as partes

A parte de um todo
nascente
desdiz o equinócio vespertino
e traduz em aplausos
a válida interpelação.

Afivelem-se deduções
como as laranjas que medram na primavera:
os embaraços 
são fulgurantemente demitidos
sobrando o chão inteiro
à mercê dos pés que o querem ler. 
À parte de um todo
em pleito desigual
os braços terçam lugar contra as marés;
o todo é desimportante
na fecunda indução das estrofes sem rumo
por saber 
que o saber não se sabe. 

No mais alto miradouro
nada é o que vemos da varanda sobranceira
(e não é por haver um teto de nuvens
a servir de chão).

O modo aristocrático em desuso
ensina:
desliguem-se os nós da teia dos pergaminhos
que não passam de incenso sem fogo
de um esplendoroso sol despojado de cores. 

Há vozes estridentes
ensaiando seu máximo ruído,
o silêncio 
sepulcral e capazmente sibilino. 
O todo estilhaçado nas suas muitas partes
perdeu-se num mapa sem sextante. 
Dos escombros
uma miríade de partes
desligadas umas das outras
intencionalmente desligadas
na fruição de uma soma
maior do que o todo anterior. 

As múltiplas partes gravitam 
no sedoso esculpir 
das palavras desarmadilhadas;
tudo se congemina na fábula da perfeição
enquanto os paradoxos dão leite ao pensamento
e das bainhas dos sobressaltos
não se sabe paradeiro. 

Chove lá fora. 
As mãos molhadas 
recolhem um pedaço de terra molhada.
As mãos empapadas 
libertam a terra entre os dedos. 
Não haveria melhor metáfora
da transfiguração do todo 
nas suas múltiplas partes.

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