Sussurrei versos ímpares
e os ouvidos inquietaram-se
no desábito da imparidade.
Se ao menos fossem verticais
e não intuíssem
os trovões que assaltam a janela
neles se podia aninhar
a refrigeração das almas.
Não era o caso:
os versos
rudes
violentos
um ensaio de sarcasmo
eram prova viva da marginalidade
do isolamento metódico
de uma certa desidentidade
que não se esfrangalha no sopé das bandeiras;
maus os modos
de quem desalinha criteriosamente
num fogacho de mau feitio perseverante
na irrisória ilha de que é esteio
nos preparos da loucura insignificante
– da loucura todavia benigna.
Justapõem-se
razões cimentadas em desrazão
no pueril encaixe da insubmissão,
talvez.
Talvez:
se visto de fora
lente que não é viável juízo
por exterior incapacidade
de saber do sangue fluente
que toma conta das veias.
Continuo a sussurrar versos avulsos.
Versos-protesto.
Versos-infâmia.
Versos-inocência.
Versos desunidos.
Versos em coreografia contra a contrafação.
Versos carentes de uma nova gramática.
Sussurro-os.
Às vezes,
em paradoxal gritaria interior
tão estridente
que só as veias combustíveis os ouvem.
O murmúrio
enche-se das cores vivas
na centelha soalheira que reaviva a primavera.
E eu sei alguma coisa
contra o rio imóvel
que espera pelo tempo impassível.
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