6.5.18

Paisagem acesa

Confiro a metáfora
na paisagem de mel
encanto cerzido na urze ao acaso
e não concedo no dilatório impropério
em que enquistam
os pesares arqueados sobre o dia volúvel. 
Uma desfeita 
sobre as arcadas perfunctórias:
as abóbadas estilhaçadas regressam ao lugar,
depois de o olhar ter errado
depois de ter perdido o compasso
depois de terçada a angústia infecunda. 
Não interrogo nada
nem procuro as respostas impossíveis. 
Antes a metáfora
uma metáfora gutural
os pontos cozidos na pele
na prometida cicatriz que dispensa tatuagens. 
Às voltas com a moldura, 
onde minha aura tem cabimento
sentado em meu lisérgico lugar,
trago da madrugada a boca sedenta
o corpo sem freio;
a insubmissão não é torpe fingimento:
a falésia testemunha o fundo da jura
o encontro das abcissas
e da escotilha vejo
o luar a caucionar o dia
enquanto a algazarra pura das crianças
póvoa estrofes em folhas soltas.
Não quero penumbras desautorizadas
como penhor da vontade. 
Só quero o deleite empossado
o verbo contundente
a maresia imperturbável
e os olhos desembaciados, incontingentes
para leves verem o quadro 
onde se senta
a paisagem acesa.

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