Um garfo hasteado
na gutural encarniçada
ferimento voraz na praça cheia
e, ato contínuo,
um faquir engole os garfos todos
não sobejando do crime prova.
Nem por causa da praça cheia:
a multidão estava distraída
com os néones e o cortejo de solenidades
inebriada com o peso grave da pátria
assim recolhida na praça da grandiosidade
e, todavia,
aninhada num fausto sem provimento.
O delfim está ferido de morte:
o garfo cortou a gutural
e o sangue abundante
inundou o chão da praça.
O povaréu não dá conta.
Pisa o chão ensanguentado
como se estivesse a agredir o delfim prostrado
em seu leito de morte
– caso a populaça desse conta
do chão sanguíneo que pisa.
No dia seguinte,
véspera de outra solenidade,
a multidão recolhida em seus aposentos.
Era o funeral do delfim
e o fim da esperança da pátria inteira;
era como se o delfim fosse a encarnação
de um rebatismo da pátria
e nem dissidentes houvesse
para desmentir o oráculo em cal viva.
Maldito o faquir
que perpetuou o mito sebastiânico
e nem teve coragem de continuar vivo
para em julgamento
dele a pátria se vingar.