3.7.18

D. Sebastião, outra vez

Um garfo hasteado
na gutural encarniçada
ferimento voraz na praça cheia
e, ato contínuo,
um faquir engole os garfos todos
não sobejando do crime prova.
Nem por causa da praça cheia:
a multidão estava distraída
com os néones e o cortejo de solenidades
inebriada com o peso grave da pátria
assim recolhida na praça da grandiosidade
e, todavia, 
aninhada num fausto sem provimento.
O delfim está ferido de morte:
o garfo cortou a gutural
e o sangue abundante 
inundou o chão da praça.
O povaréu não dá conta.
Pisa o chão ensanguentado
como se estivesse a agredir o delfim prostrado
em seu leito de morte 
– caso a populaça desse conta
do chão sanguíneo que pisa.
No dia seguinte, 
véspera de outra solenidade,
a multidão recolhida em seus aposentos.
Era o funeral do delfim
e o fim da esperança da pátria inteira;
era como se o delfim fosse a encarnação
de um rebatismo da pátria
e nem dissidentes houvesse 
para desmentir o oráculo em cal viva.
Maldito o faquir
que perpetuou o mito sebastiânico
e nem teve coragem de continuar vivo
para em julgamento 
dele a pátria se vingar.

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