Consegui trazer
o diamante em bruto
no periscópio amuralhado.
Trouxe ao saber
a história que encerra a história
capitel esculpido pelos braços não tementes.
Não sabia
deslindar as entrelinhas
até descobrir o avesso da página
a escultura indelével sufragada.
Soube encontrar as sílabas no lugar
as vírgulas diligentes
a gramática
num lugar não indecoroso.
Ou talvez julgasse
terem estas sido as ilações
depois de aplacar
o mar tumultuoso.
Agora
já não uso os verbos no pretérito.
Agora
desconfio das coisas
quando se revelam em sua claridade.
Desmonto as consagrações
os (afinal) volúveis imperativos
os edifícios cerceados
em seus alicerces incorruptíveis
as balas oferecidas aos provocadores
as atrozes linhas
perfeitas como leito de palavras
sem mácula
do mar calmo
que esconde subterrâneos remoinhos.
Sob um campo de nuvens
ouço um avião que se fará à pista;
é tudo o que me é dado a saber
– é pouco e muito,
ao mesmo tempo.
Arroteio a sementeira do pensamento
e intuo
(desmentindo lugar a qualquer certeza)
a sua cansável condição
um muro que pretendia coerente,
sem a combustão da sua fragilidade.
Volto temporariamente
ao verbo no pretérito:
desenganei o coloquial estatuto do pensamento:
encontrei-o
nómada e sem pertença ancorada
no incerto lugar onde se desmente
sucessivamente.
Passei a saber
que muito saber
tem pouca serventia.
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