26.7.18

Às de trunfo

Tenho o trunfo farto:
meia-dúzia de ameias
entrelaçadas no nevoeiro
onde se aninha o pensamento. 
– E de onde te antevês
congeminas as palavras servis?

Falo ao ouvido da manhã
na insonora estafeta 
que convida ao colóquio. 
– Não te sobram braçadas
nas algas pueris no dorso das ondas?

Ouço o murmúrio da chuva miúda
nas costas da atenção
enquanto os gatos se escondem
em muralhas de sono. 
– E não te é dado saber
dos capítulos sem páginas
da vetusta purificação na rima tardia? 

Abraço o tempo teimoso
na mirífica varanda
que ampara o precipício. 
– E se o vento atroz
conspirasse no pulcro entardecer
e fosse semente do caos?

Bordejo o rio seco
na angustiante paisagem estiada
sem a secura das interrogações
como passadeira inviável. 
– E lutas com as mãos cheias 
na aspiração da justiça sem medo?

Tenciono não jurar outra vez
nos meandros da memória bastarda
pela contemplação do tapete que me espera. 
– E consegues sentir
a turbulência a fiar o sono
os remendos de alma dilacerante
numa lamentação infecunda?

Desato os penhores
na demissão dos embaraços
que se alinhavam no estertor à volta. 
– E que razão fabricas
à razão das horas enfeitadas
com tão eloquente destrunfo?

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