É a conspiração dos jacarandás:
as cores em combustão
rompendo com a noite
(se preciso for)
deitando sobre o olhar
a cor luxuriante havida por necessária
na contrafação imperativa das sombras.
Só pode ser conspiração:
recolho das pétalas dos jacarandás
um aroma imaginado
que extasia
e reinventa a pele adormecida
e devolve ao sol o acobreado palco
e embebe o mar numa cor desmaiada
e ultraja todos os quadros encarvoados
ditando-os à decadência
em que servem os vultos.
Uma conspiração:
no apego às palavras
em seu lugar reavivado
as palavras
decompondo-se em semântica do avesso
só para ter a medida de uma conspiração
na antítese das malevolentes conspirações.
Tiro as bainhas
ao quadro diante do olhar:
admito a conspiração
dádiva dos sentidos
e convoco os jacarandás
para uma constante jornada de flores pujantes.
Só para me saber
constituinte de uma conspiração
não cuidada com o punho preventivo
de punição em coro com o penal código.
Para memória futura
e em apelo aos distraídos,
aos que nunca
deixaram os sentidos embebidos
na quimera de um florescido jacarandá,
e aos provavelmente incultos
(sem culpa formada por essa culpa)
que não sabem da cepa dos jacarandás,
para colherem
no púlpito do olhar
o frémito da conspiração fertilizada
pela embriaguez de cor dos jacarandás.
Até muito sermos
tutores de conspirações benévolas.
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