Ganhei o caudal sem meças
no dia em que o calendário transbordou
e em fatias o sol se fez tirocínio
à espera do verão ajuramentado.
O comboio passou
acelerado
talvez atrasado.
À lapela
trazia o cantor lírico
a voz embotada pelo vento que corria
no sentido lugar que não chegava a ter lugar
tanta a velocidade do comboio
tantos os apeadeiros falhados.
Fazia lembrar
a infância
ou a remissão de um tempo perdoado
no inconveniente de um olhar sem peias;
o comboio
sentia-o apressado
apesar de vir em débito com o tempo:
e, mesmo assim,
a pressa toda consumia a paisagem
transformada num borrão
nem sequer os limites conseguidos
na moldura do olhar.
Se perguntassem ao comboio
ele já não se lembrava
de onde tinha partido
e menos ainda tinha em lembrança
onde queria ter cais.
Era quando
a âncora se lançava
na distante nuvem
onde medravam evocações da infância:
o comboio de brincar
andava sucessivamente às voltas
na pista montada
que era circular.
Até que as pilhas se esgotavam
e o comboio de brincar
ficava à mercê do rio caudaloso.
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