Hoje ganhei uma década
nos escombros da primavera
entre o gentil ciciar dos pássaros
e os prantos sussurrados ao longe
por viúvas sentadas na orfandade
contra os relógios madraços
em aproveitamento do luar escondido
de cócoras diante do mundo
ou sobranceiro na varanda sobre ele.
Hoje compus o jardim de pedra
sem o asfalto por companhia
apenas o telúrico sufixo
dando corda ao teleférico da manhã
em falas cobertas por mãos encovadas
desabitando as teias enquistadas
à espera do pleito sem juiz.
Hoje assobiei uma melodia
que julgava olvidada no repasto do tempo
entre quimeras sem sal
e o lodo estético que dá ao cais
sem dar ouvidos às profecias
em apoio do lustre meticuloso
e dos estetas despreocupados
ao colo de poetas esconjurados.
Hoje esqueci-me
das sombras densas
do arrazoado gongórico
dos recortes espalhados pelo chão
das palavras malditas
do exército de anões
da definição dos limites
do desenho do nevoeiro
das masmorras do pensamento
das pérolas desestimadas
dos celtas embebidos em sua boçalidade.
Hoje
ganhei uma década.
(Pelo menos.)
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