Atiro o corpo cansado
às serranias imersas no nevoeiro.
Ouço os caudais estrepitosos.
À passagem dos pés
a folhagem seca, outonal,
crepita.
Prossigo.
O corpo ensopado
desafia os pesares.
Luta contra a sua própria carne
as veias crestadas no vulcão da dor.
Ou pode não ser nada disto:
será
o olhar fecundo
que rompe a neblina que é horizonte
e entretece as faias floridas
o azevinho generoso
a alfazema aromática
o tojo moderadamente colorido
as árvores que seguem a coreografia do vento
os recortes das cumeadas
o desenho árduo da serrania composta
e os vales que se colhem com uma mão
no corpo levitado na ascese imprecisa.
Não sei do caminho.
Não sei onde estou.
E talvez saiba tudo o que importa
na tela profusa que o olhar compõe
sem vivalma por perto
na solidão heurística
um húmus
onde o pensamento encontra guarida
e rejuvenesce no dorso da extenuação
os violinos sem intérprete
soletrando as arestas dos versos.
Sinto a maré-viva que não contenho
como erupção da lava irreprimível
o fértil nutriente das paisagens recortadas
que outorgo à geografia dos corpos.
E alinho as estrelas no firmamento
repostas com os meus dedos quiméricos
no bálsamo inteiro
servido
em pequenos copos coloridos.