Este é o meu desmodo:
um arquipélago hasteado
na frontaria do ocaso
e um banco de ardósia
onde cimento meu pesar.
Tirei as teimas
contra o improvável bocejo
dos deuses reduzidos à inexistência.
Sabia que podiam ser magoados
mas essa não era minha mágoa.
Cuidei do sentido olhar imaterial
ou, por assim dizer,
a digressão sobre a teórica conceção
onde se antecipa o pretérito.
O arquipélago era o refúgio
depois
de extensas camadas de terra de ninguém
e as vozes iradas faziam o que podiam
em suas metáforas inacabadas,
seus proverbiais monólogos.
Não queria saber de nada disto.
Juntei as mãos
juntei-as
ao constante desvelo pelo mundo
e sem o contratempo que desfigurava a memória
pareceu-me que o espelho
devolvia algo admirável.
Não era eu, contudo:
continuo sem remédio
esgotado na fogueira
onde se consome o vão estipêndio da memória
inseguro na consumição das inseguranças
que nem amaldiçoadas se alijam
da fronteira onde deixo de ser eu.
Se ao menos
o arquipélago não fosse cercado por água
podia chamar a mim um reino,
um reino que fosse,
miserável,
mas reino enfeitado
pelo segredo de que seria tutor.
Não contei
com a desmedida da ousadia
e o arquipélago foi tomado
pelo mar enfurecido.
Tal foi o meu desmodo
não incensado nas arcadas do medo.
E às vezes digo,
quase como se fosse um lamento:
antes fosse,
o medo.