A matéria perdida:
subsídio da alma
que parte em demanda
de inventário.
A janela do tempo
agiganta-se nas palmas das mãos
entre as cadeiras desarrumadas
e o diligente critério interior
que desorganiza as coisas frívolas.
Não é de tempestades
que fala o corpo;
é de paisagens emolduradas em frações do sangue
como uma escultura partida em partes.
Pudesse a memória
lembrar-se do futuro;
pudessem as palavras
ecoar o nunca desdito;
pudessem os muros caiados
ser as páginas de um livro sem autor;
pudessem as noites
traduzir o oblívio
– e as juras
deixariam de pertencer aos arrependimentos
absorvidas pela saga
da simplicidade.
Não
não me curvo perante a angústia
nem quero saber minhas
as lágrimas que cimentam o chão sem prumo.
Na espiral dos dias combustíveis
terçam-se as fragilidades
contra os mastins sem rosto.
Não serão deles os sonhos vindouros.
Não serão as comezinhas farsas
a transfigurar um céu
onde apetece arrebatar as estrelas
fazendo do olhar ávido
o suor
que arrefece os deificados por equívoco.
Não saio de onde pertenço.
Não fujo das fraquezas que enriquecem.
Deixo ao que não sou
a fugaz espada que se rebaixa
na obnóxia condição dos beligerantes.
Deixo aí que não dou
as preces no idioma sem gramática.
Em vez de avareza
dou-me à combustão da alma
que se não gasta
e ao gosto dos oráculos
que se esqueceram das costuras.
Em vez da volta
prometo a partida.