2.7.21

Colherada de urbanismo

A cidade 

joga-se contra a luz entediada. 

A cidade

joga-se contra a luz

entediada. 

Sente-se enteada

perdida no mapa crepuscular.

A cidade enteada

amanhece desarmada 

e terça os braços 

contra a maré afluente. 

A cidade amuralhada

rebela-se contra os almocreves da dissidência. 

Não espera nada

 

(a não ser

a imodesta condição

de cidade centrípeta

onde todas as pessoas encontram

estuário).

 

A cidade insubordinada

ferve nas jugulares exasperadas

enquanto o sangue entardece

em forma de lava. 

E a cidade arruma as unhas

no espólio de quem se oferece,

acolhedora. 

A cidade madrasta

deixa os moradores no oblívio. 

A cidade iconoclasta dissolveu-se

no enamoramento dos forasteiros. 

A cidade

é só uma manta de retalhos.

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