1.7.21

Granito

A matéria perdida:

subsídio da alma

que parte em demanda

de inventário. 

A janela do tempo

agiganta-se nas palmas das mãos

entre as cadeiras desarrumadas

e o diligente critério interior

que desorganiza as coisas frívolas. 

Não é de tempestades

que fala o corpo;

é de paisagens emolduradas em frações do sangue

como uma escultura partida em partes. 

Pudesse a memória

lembrar-se do futuro;

pudessem as palavras

ecoar o nunca desdito;

pudessem os muros caiados

ser as páginas de um livro sem autor;

pudessem as noites

traduzir o oblívio 

– e as juras 

deixariam de pertencer aos arrependimentos

absorvidas pela saga 

da simplicidade. 

Não

não me curvo perante a angústia

nem quero saber minhas

as lágrimas que cimentam o chão sem prumo. 

Na espiral dos dias combustíveis

terçam-se as fragilidades

contra os mastins sem rosto. 

Não serão deles os sonhos vindouros. 

Não serão as comezinhas farsas

a transfigurar um céu 

onde apetece arrebatar as estrelas

fazendo do olhar ávido

o suor 

que arrefece os deificados por equívoco. 

Não saio de onde pertenço. 

Não fujo das fraquezas que enriquecem. 

Deixo ao que não sou

a fugaz espada que se rebaixa

na obnóxia condição dos beligerantes. 

Deixo aí que não dou

as preces no idioma sem gramática. 

Em vez de avareza

dou-me à combustão da alma 

que se não gasta

e ao gosto dos oráculos 

que se esqueceram das costuras. 

Em vez da volta

prometo a partida.

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