27.7.21

Código postal

O gelo senta-se na memória

converte as mãos em sílabas cortantes

e os corpos ululantes envergam 

uma fala singular. 

 

Levo o fogo perene

às costas da montanha;

não sei se é lava o hálito dos velhos

se as viúvas choram a solidão como conforto

se os cães vadios não têm fome

ou toda a roupa é inútil para abrigar o medo. 

 

É o piano que fala agora. 

Tudo o que diz é ímpar na pureza

cais que dançam em uníssono com as ondas

e um magistério de desinfluência

que assalta os viciados no poder. 

 

Podia ser a água tépida

mesmo no meio da paisagem de gelo

a arrumar as sílabas num santuário sem morada

ou apenas eu

imerso na nudez de mim mesmo

já não contrafação de um algoz sem presa

preparado para a morada sem código postal.

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