7.12.16

Alfândega

Dá-me uma medida de desrazão
um açoite nos predicamentos da alma
sal duro para temperar a água
uma venda para os olhos
(no dealbar da encruzilhada)
ruins costuras para tudo descoser
o crepuscular desalinhavo
um prolegómeno armilar
(dentro de moldura estilhaçada)
um gesto açambarcado na lua baça
os olhos marejados pela melancolia vazia
duas esteiras pregadas ao chão molhado. 

E dá-me
depois 
a iridescência sonhada em volteios noturnos
o suave declive dos teus cabelos
o sortilégio da tua voz macia
o peito onde me deito
as estrelas desembainhadas das tuas mãos
o calor do teu corpo
o refúgio dos teus braços como castelos
a desenfreada correria pela música
os palcos dantes sonhados e agora tangíveis
o lustro da noite armada nos nossos braços. 

Dá-me o que és
um mar imenso e sem fundo
páginas arrancadas a ferros vadios
o sol campestre e sem igual
enquanto de mim
recolhes os parcos haveres 
que te forem serventia. 

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