15.12.16

Manual de instruções

Sabia
que as escadas adulteravam
a noite.
Que as mãos atadas
eram vistoria
a destempo.
Que os beijos prometidos
rimavam com areias
movediças.
Sabia
que o velho cais
esperava.
Que os ulmeiros desmaiados
desconfiavam do tempo
gasto.
Que as batinas embuçadas
aperfeiçoavam os ardis
militantes.
Sabia
que as rotundas podiam ser
ao contrário.
Que o poente
era um rio
sem horizonte.
Que as árvores outonais
regressavam à opulência
matinal.
Sabia
o que os livros emprestavam
ao olhar.
Que as marés desajeitadas
compunham as costuras
da alma.
Que um triunvirato entronizado
bebia até os sentidos ficarem
embotados.
Sabia
que essa era a melhor
lucidez.
Por saber
que em tais preparos
nada era o saber.

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