6.12.16

Medos supérfluos

Metido no torniquete das ideias
sem espaço para dar aroma à respiração
prometeu jornadas diferentes
uma desagonia dos dias pungentes
se uma divindade sobre ele deitasse o olhar. 

A acontecer
só acontecimentos exemplares
seriam de esperar. 

Numa reviravolta do pensamento rebelde
(maldito sejas,
impenitente capataz – protestou)
sentiu uma crisálida sobre o ombro. 
Sussurrava o leitoso rio das incógnitas
uma equação interminável
e sem resultado aprazado. 

Tentou decifrar a raiz quadrada do enigma,
não fosse em vão o cuidado da crisálida. 
Podia a divindade atenta
desaprovar a má conduta
o frio olhar desligado da bondade
os atos sem arrependimento
os rancores que desassossegavam
o pretérito desorgulho. 
Podia a divindade,
metendo calibre no anátema do juízo,
julgar que o atual elogio
não compensava a turbulência de outrora. 
E, como punição,
decretasse
oito tábuas rasas de castigos dolorosos
sem garantia de serem a paga toda
pelos desmandos. 

Virou as ideias do avesso,
não fosse uma divindade vingativa
tirar as medidas do seu desassossego. 

Tão depressa
não partiriam dele preces. 

(A apoplexia não deixou ouvir
o sussurro da crisálida 
até ao fim. 
Terá dito que as divindades
são um espelho baço onde medram 
ilusões,
apenas ilusões. 
Perdeu uma oportunidade
para sepultar os sobressaltos sobrantes.)

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