2.8.17

Explosões no céu

Dessa pistola extraviada
balas sem corso
o trono extasiado do céu sem cor
constelações despidas no jardim centrípeto
e as páginas do livro cuspidas à capa.
Sem os medos desapalavrados
nem as demenciais gargalhadas
no ergástulo do mar encapelado
fantasmas denunciados perdem a face
e bolbos encarcerados esperam à porta.
Caminham em movimentos paralelos
loucura e solidão
num archote de preces estouvadas
ardendo nas paredes aluadas
sem os dedos por testemunha
sem infrequentes vulcões por estamento.
Perdem-se os tabuleiros gastos
na imensidão do futuro
e as estrofes desprendem-se da lua baça
em vinhos pedigree
em ruas tingidas pelo sortilégio anónimo.
Em vez de loucura
propõem
a mansidão dos tempos vagarosos
a desleitura das palavras vizinhas
comboios em arrefecida marcha
gente sem rosto
a pele imaculadamente imune ao suor
bíblias e obras semelhantes.
Desagrilhoo os chamamentos assim enquistados:
não quero tibiezas
não admito dissolução da alma repentina
não torno possível
as viagens dentro do mesmo lugar
e as arcadas solícitas que terminam em penhor.
Levantam-se os mastros irrefreáveis
contra a subordinação malsã
temerosos pederastas que se vendem ao desbarato
as páginas e páginas escritas no nada
num nada sem remorso
num nada sem incómodo,
o nada inacabado.
Pois levamos o mar inteiro
abraçado às mãos suadas,
tentaculares
e devemos a nós mesmos
a furiosa sede de tudo querer
sem sabermos dos limites
pois é dos deslimites que somos tutores.
Amanhã pode nem haver
amanhã;
e depois?
as palavras sem vento
as palavras vertidas no ouro mais alto
são-nos creditadas
em ondas imarcescíveis
no estrépito dos campos em silêncio
de onde trazemos flores maduras
a medula da glória embebida na ossatura.
Na noite sem fundo
emprestamos o sono ao fojo de um lobo
e somos como ele
lobo irredentista
apóstolo das franquias por onde se compõe
a gente que adora ser gente.

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