5.8.17

Rosa-embrião

Desde a penumbra sem tempo
uma rosa abotoada
grita
surdamente grita
à espera do devir. 
Haverá chave desarvorada
algures ocultada
talvez sepultada no jardim húmido
o segredo que a rosa embrião espera. 
O punhal desafiado
ensanguenta a árvore secular;
folgou a rosa-embrião,
não foi testemunha da carnificina:
haveria de desistir do parto
e preferia ser nado-morto. 
Pelo andar das coisas
e em mantendo-se a teimosia da rosa
que quer ser rosa de nome inteiro
sem saber que fado a espera:
ciclo emprestado às leis da natureza,
em paciente medrar
até ao desprendimento de suas pétalas
decadentes enfim,
ou um algoz colhendo-a prematuramente
mercê das vaidades humanas
que a querem
para frívolo enfeite?

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