14.8.17

Quimera

No microscópio ávido
olhos e cores e desejos
formas sem forma
um desenho do mundo
na bissetriz do desabrigo.
Não sei se é assim
que se congeminam as coisas
ou se devo dizer
às luas viandantes
e aos elfos sonhados
se a monstruosidade é palco
e nos sobra a resignação.

Oxalá tudo fosse
no seu oposto.

Afinal não sei.

Guardo em papel vegetal
os raios quase impercetíveis
de um desenho vitral
antes de o ocaso ter ciciado à janela.
Estimo saber que coisas diversas
se protelam no estirador abandonado.
Mais valia
um promontório ao vento
sem armadura
sem velório tenaz
ou as ondas furiosas de um mar diáfano.

Oxalá
soubesse ao menos
um lugar
um lugar que fosse
meu
património meu (em alternativa)
ou de outrem
e que eu pudesse tomar de empréstimo
só para me saber defenestrado da orfandade
numa torrente de fertilidade pródiga.

Atiro os olhos cansados
aos enredos passados em revista
no microscópio banal.

Não é preciso mais nada.
A não ser
o sono desalfandegado
a epiderme clara da não vergonha
o amor-esteio
e o rosto do amor-esteio
como castelo imperecível
na balaustrada do desejo sem freio
na mercê de um beijo quente.

Não é preciso mais nada.

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