3.8.17

Palavras-aquário

Palavras
às braçadas
na absoluta recusa do silêncio
estocada certeira
no húmus da solidão. 

Autênticas ou distraídas
sorumbáticas,
talvez,
às vezes alinhadas com o pesar dominante,
vezes outras insubmissas,
sempre frontais
cruas
mas palavras mastros
muralhas do sono justiçado
palavras nuas
com a cor do mar
transparência lídima,
mas palavras. 

Cimento duradouro
tirando as teimas aos fungos timoratos
que cobrem as vidraças com baça cortina
no desencontro do relógio com o tempo. 
O emudecer do rosto
um punhal ilegítimo
que locupleta os serenos desenhos
por onde se deita
o corpo cansado
o corpo
à espera de triunfal desembaraço. 

Nadando num mar de palavras,
tantas
que da fartura não há de sobrar
sobressalto na escolha. 

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