Se ao menos
a superstição habitasse em mim
e pudesse ficar refém
da linguagem simbólica
da numerologia
das cifras que se intuem de signos,
diria,
ao calcular
dezanove mil e sessenta e sete dias
de vida corrente,
que seria elegia possivelmente a destempo
ou usurária contabilidade sem préstimo.
Não sou
(almofadado pela superstição
cultor de simbologias
propenso à linguagem dos números
ou a outras insondáveis pelejas
que emergem do misterioso nevoeiro
escondido no cais).
A lição de Goethe
é o norte preciso:
não são
os dezanove mil e sessenta e sete dias
a custódia desta alma;
é o último
dos dezanove mil e sessenta e sete dias
o que tenho entre os dedos
e que não deixo contaminado pelo esquecimento.
Se em mim houvesse quarto habitável
para as descodificações do inenarrável
se de mim desse o flanco
a esoterismos tomados pelas piores conspirações
subiria ao estirador
e, em solene momento,
desenharia a interrogação:
que fração
dos dezanove mil e sessenta e sete dias
falta
para a finitude?
Mas esse quarto
não pertence
à arquitetura de mim.
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