23.5.20

Os tolos e os bolos

Do império das ilusões,
onde medram os iconoclastas do fingimento,
irradia o úbere que parece não ter fim. 
Não sabem os apóstatas 
que ludibriam a grelha das leituras,
que sem o trivial mandamento dos ardis,
sem a contínua miragem
que desfila na vertigem do descontentamento,
não derrotam o umbral da irrelevância. 
Dantes
enganavam-se tolos com bolos:
quase todos 
tinham uma cortina baça 
a travar o entendimento,
e suseranos demoravam-se 
na inércia dos demais. 
Hoje 
só mudou a espessura da cortina:
o teatro das ilusões acostuma-se,
vem à cena dentro de outra cena
mais geral,
numa intempérie 
disfarçada de interminável estio,
e suserano é quem, 
da empreitada de convencer os comuns
que um direito geral 
a uma constelação de direitos existe,
se saldar com distinção. 
Agora
é dever instruir os tolos que não são tolos
(um dever com serventia de um direito geral).
Fica mais fácil
enganá-los com bolos baldios.

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