11.5.20

Os gramas do medo

A pele puída abre o cofre
paira sobre o rosto corrompido
do devir à espera de vez.

A estola da vaidade 
cai sobre o pescoço emaciado
que exulta com o disfarce.

Pelo tear da janela
o beijo seráfico entra sem cautela
e o peito arde como tocha sem ignição.

Os puristas encenam a geada a destempo
coabitam na fortaleza decadente
à espera de divindades sussurradas.

Não é paga da vingança
a que oprime a geração fortuita
em meneios de dançarinas sem sorriso.

Os dados da contenda não saem a terreiro
teimam na contemplação do inerte
como se esperassem pelo dia sem fronha.

De todos os agarrados aos maternais saiotes
exultam com dentes de fora
como fagotes de orquestra flácida.

No espelho da alvorada
as lacerações perdem-se na frugalidade
hesitam entre o apetite do dia.

É um tudo que se perde no olvido
o tudo descolorido pela melancolia
as ações cotadas na bolsa da improficuidade.

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