O meu computador
é mais inteligente
do que eu.
Todos os dias,
sem que lhe tivesse pedido,
atira para a pasta do lixo
as mensagens daquele sujeito
insuportável.
Sem que lhe tivesse pedido.
O meu computador.
Mais inteligente.
Do que eu.
Pudera:
o meu computador
alinha na equipa
da inteligência artificial.
Ele terá de mim
melhor conhecimento
ou então
sou eu,
o da apenas inteligência espontânea,
que estou em défice de conhecimento
de mim próprio.
Mas
ao menos
o meu computador
não têm dívidas existências
e dúvidas ao banco
nem trava conhecimento
com lugares descobertos
nem se extasia com um livro
uma peça de teatro
um concerto de música
nem se enamora da mulher amada
nem testemunha a filha
a deixar de ser criança.
O meu computador
limita-se
a ostentar sobre mim
a superior inteligência
poupando-me
à conversão de incómodos
quando a sobredita personagem
bolça um qualquer asnear
na prolixa atividade de enviar
mensagens.
E eu
não invejo
o computador por ser
mais inteligente
do que eu:
a inteligência que me coube
(a tal, espontânea e humilde)
já não cabe em si
de tão tumultuosa.
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