26.10.20

Opcional

Este é o chumbo que tinge o tempo

uma mortalha irremissível

o protesto encorpado no vinco do rosto

sem estar à espera de nada

sem arrumar as esperas 

para o relógio diuturno que arregaça o dia

sem arruinar os anéis vertidos em ternura.

Não são as mesas gastas

o palco adiantado ao crepúsculo;

não são as mãos suadas

que aquecem o arrefecimento noturno;

não são os jacarandás floridos fora do tempo

o atestado de salubridade do pensamento:

não há certidão lavrada no mosto da melancolia

e de vulcões ideados é colhida a sementeira

os juros a pagar no vindouro

entre a fala amuralhada e o vinho delituoso.

Não são os trovões medonhos

que acordam da hibernação plúmbea

nem o ocaso feérico se transfigura

em alvorada a destempo.

Esta é a boca ávida

o transiente esfacelar da fala anciã

a nova gramática 

que desponta no viés das parras acobreadas

o autor sem nome nem paradeiro

um outono macilento 

que desaprova a gente que o desaprova.

Este é o túmulo sem inquilino

a turfa tremeluzente que bebe toda a chuva

o mirífico legado do porvir jurado

em estandartes magníficos

na solene indumentária

da nudez.

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