Este é o chumbo que tinge o tempo
uma mortalha irremissível
o protesto encorpado no vinco do rosto
sem estar à espera de nada
sem arrumar as esperas
para o relógio diuturno que arregaça o dia
sem arruinar os anéis vertidos em ternura.
Não são as mesas gastas
o palco adiantado ao crepúsculo;
não são as mãos suadas
que aquecem o arrefecimento noturno;
não são os jacarandás floridos fora do tempo
o atestado de salubridade do pensamento:
não há certidão lavrada no mosto da melancolia
e de vulcões ideados é colhida a sementeira
os juros a pagar no vindouro
entre a fala amuralhada e o vinho delituoso.
Não são os trovões medonhos
que acordam da hibernação plúmbea
nem o ocaso feérico se transfigura
em alvorada a destempo.
Esta é a boca ávida
o transiente esfacelar da fala anciã
a nova gramática
que desponta no viés das parras acobreadas
o autor sem nome nem paradeiro
um outono macilento
que desaprova a gente que o desaprova.
Este é o túmulo sem inquilino
a turfa tremeluzente que bebe toda a chuva
o mirífico legado do porvir jurado
em estandartes magníficos
na solene indumentária
da nudez.
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