31.10.20

Ponto de cruz

Não é da fazenda puída

que contam os dedos válidos

nem da cruz alvoraçada

que se terçam mentiras.

Que se emalhem os pertences 

 

(não há equívoco,

caro leitor:

o verbo é 

emalhar)

 

no episódico insurgir da maré,

não por acaso chamada

maré-viva,

que o ponto de cruz

emoldura

para memória futura

os estragos da viva maré.

 

E depois

não há quem inquira

por que sortilégio do idioma

 

            (ou distração dos peritos)

 

a uma maré destas

assim devastadora

se chama

maré-viva,

se tantas vezes o que espalha

é morte.

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