30.12.20

Montemuro

Do lado certo 

a montanha desenha-se na luz.

Rasgos de crueldade

na tribuna de um rebanho

 

(qual será a primeira rês

a deixar de contar

no inventário dos vivos?)

 

Amortecem a urze sob os cascos

com o mais alto patrocínio

do cão tutelar.

A neve arrancada ao chão

dissimula-se

nos ventres opados

como se fossem vitaminas órfãs

só à espera da confirmação do algoz.

Será rubra

a neve ensarilhada

sob o jugo do punhal severo.

Será assim tingida

a abundante água

vertida pela serra. 

A narrativa congemina-se:

não é crueldade

é o oximoro

da beleza serrana.

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