Trago a candeia ao peito
oh!
fazenda minha em vez de sangue
sem sombra da quimera suplicada
apenas o desterro
onde parece que já não sou
onde perecem os fantasmas aviltados.
Cubro com os olhos,
sentinela da noite fugitiva,
as flores adormecidas.
Espero.
Espero que seja madrugada
e os olhos desembaciem a manhã
e aos teus pés me despoje
em toda a nudez impura
réu de um luar qualquer
à espera
à espera da tua mão
e de um lugar.
Vejo um piano
sozinho.
Um piano
à espera de mãos
e eu que trago uma candeia ao peito
condenado ao silêncio
sussurro a música que não sei compor.
Pois no desterro
só há a mudez das montanhas frias
o penhor dos medos desimpedidos
os terríveis monstros que encarvoam o mar.
Mas o piano
espera pelo luar
em forma de sortilégio
e espera
por umas mãos sem corpo
as pétalas
desassombram as puras notas musicais
até que tudo seja
a síntese da música
nas esperas alinhavadas pela manhã boreal
e ao pequeno-almoço
as madressilvas perfumem o quarto.
Voz a voz
o murmúrio
com a lucidez dos olhos falantes.
Empenho tudo:
não quero nada
a não ser a nudez de mim
escondida
a não ser de ti.
Sem comentários:
Enviar um comentário