Era uma água inaugurada
as patas desdentadas da noite
em talhadas de fúria servidas.
A boca arrancava o suor do chão
numa métrica desmatada
no provérbio dito em idioma alheio.
E as pessoas diziam
entoemos o pão que o amanhã dará
antes que os vitrais de estilhacem
– antes que as modas sejam olvido
e dos desastres lacrados no atlas
seja servida a lenha em lenta combustão.
O quarto sem luz
emancipa-se do medo diuturno
e os rostos emprestam-se ao dia seráfico
antes que os versos terminem gongóricos
– antes que as partículas acelerem
e o céu expluda para lá da fronteira
numa chuva de flores crepusculares.
E dessa água inaugurada
bebem os cavalos a sede das estepes
pois das neves ausentes se entendiam
em cofragem que desfalece
na fragilidade que povoa os Homens.
Por fora
os faróis não deixam ninguém sozinho.
Na cumeada
acendidas pela noite sem claridade
minúsculas vírgulas vermelhas bruxuleiam
sem saberem se o vento as socorre
ou se deixa ao convés ermo e deserto
a embaixada dos órfãos da loucura.
As apostas correm as páginas da geografia
reféns de apóstatas de lucidez
que irrompem numa correria irreparável
contra as barragens que nos dividem do medo.
Até que a falésia se despenha atrás de nós
sem deixar vestígios
e a pele curtida na angústia
abandona o seu tirocínio inválido.
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