14.3.22

Tempos desinteressantes

Cortam-se as sílabas no invólucro do medo. 

A fala intumesceu

e as palavras assoaram o ranho 

dos dias pesarosos e lamentáveis. 

As armas falam pelos corpos. 

As águas poluídas são o mosto dos dias farsantes. 

O desalento levanta-se na roda-viva do tempo

à espera dos provérbios roubados

e da insídia que coloniza 

a geografia dos Homens. 

As cores foram anestesiadas

e até o tempo não se terça

a propósito dos arco-íris. 

Temos medo do amanhã. 

Temos medo 

do que nunca deixamos de ser.

Sem comentários: