Considere-se a varanda estendida sobre o ocaso.
De cada vez que o vento cicia
os arbustos pendem sobre o precipício
e isso faz-me lembrar vidas várias
que se convidam para o palco deletério.
Os braços não sossegam no sopé da maré-cheia
convidam os vultos a serem pagãos
sob a égide da bravura de um guerreiro limítrofe.
Se ao menos
os desensinados não povoassem o medo
e os verbos não subissem nos poros das sílabas
a madurez das folhas não as faria outonais
e seria a escotilha a avisar da chegada.
De mangas arregaçadas
os pescadores mentem as preces que os protegem
dos mares não lúcidos e das marés assanhadas.
É um pouco como devia ser com os demais,
protestam curas militantes
e crentes de variegadas cepas,
peticionando a usura das sotainas apessoadas
sem contar com os desalinhados
uns
que não se aninham a deuses e seus mandatários
e outros
que distraidamente povoam a indiferença.
Em vez dos mapas derruídos
os novos profetas convocam
as lentes desembaciadas
e desenham,
a tinta-da-china,
os olhos açorados de desempoeirados anciãos.
Já outrora se dizia
que a antiguidade é um posto.
Ninguém cuidou de inaugurar a manhã
desconvocando a penumbra ensonada
para deslembrar
que a antiguidade é só um passo
e decidido
para a decadência.
Os seniores acatam sem resistência.
Sabem do exaurido da carne
dos ossos escombros
e o despensamento atraiçoa em desfavor da maré.
Suas
são as varandas arqueadas sobre o precipício.
Despenham-se numa maresia inspiradora
enquanto resgatam
em precipitada cadência
os fragmentos representativos do estatuto
vigente.
São eles que atendem a porta
quando os demónios amedrontam os pueris.
Desmentido o posto da antiguidade
que seja consagrada
como matéria-prima que debita a estabilidade
que participa dos corsários
em tribunais sumários
contra o passado habitado
por fantasmas e medos.
A tiracolo
os velhos trazem os olhos cansados
de quem soube colher
as costuras do mundo inteiro.
Até que nas grutas da memória
sobre o vocabulário minimalista
em defesa dos sucessores que se habilitam
na vertigem de quem desacredita da senescência
os velhos aparem as unhas da mentira
e acertem contas com a anestesia geral
dos demais.
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