17.11.22

Betão armado contra espátula

As veias tornadas paredes

na sumptuosa enseada

à prova de juras

abjuram o medo consular 

a matéria funda que bolça

sobre a inocência.

A inocência,

ah!

como rima com incoerência

 

(a proscrita, hélas! incoerência)

 

como são remotos os paladares

as virgens que nunca o foram

as estantes destinadas ao vazio

as fábricas sem operários

um pouco

como aqueles comboios modernos

que viajam sem condutor.

As veias

congeminadas por dentro de vulcões

imperatrizes da sua própria lava

não se intimidam:

atirem-se os mastins a elas

para serem derrotados sem remissão

num remoinho nuclear que tudo dilacera

até a palavra estilhaços

banida do dicionário

banida das convenções outorgadas

banida de

banida de...

banida.

Os modos perderam-se

ainda a tempo

de serem desmentidos.

E todo o sangue devolvido às veias

tradução válida de um corpo inamovível

avisa os destemidos que tinham de o ser

contra a avassaladora tempestade sideral

o céu a fugir por entre os dedos da alma

e um copo de água

singelamente

derramado 

para avivar as sementes

para memória futura.

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