Um salto depois
Paris ou Istambul
Berlim ou Budapeste
extinto o sentido das fronteiras
os idiomas deixam de ser embaraço
e um caldo de cultura
feito de fusão
do sangue e da carne que não falam idiomas
nem são paradas em fronteiras
vem no lugar da roda sobressalente.
As bandeiras hasteadas são todas brancas
nelas esvoaçam os vincos das palavras
nelas se sucedendo os idiomas amostra
desenhando
a tinta da China
o músculo da concórdia
o ecumenismo de diferentes
que só o são nas convenções arrumadas
no parapeito da banalidade.
Somos
os nomes que se dizem
em todos os idiomas
as bocas que se cruzam
no desmedo das diferenças
os corpos cosmopolitas que aprendem a sê-lo
na vertigem do corpo sempre outro
seja qual for a sua linhagem.
Numa eutopia militante
onde se jogam dedos em forma de pétalas
armas sem munições
as palavras mosqueadas em poemas espontâneos
bebendo a inspiração em marés untuosas
maresias anestesiantes
esboços de sonhos não proibidos por lei
nem desdenhados por tributos variegados.
Esse lugar
onde habitam os sonhos
não vem no mapa.
É imarcescível na fusão das falas
no ditado dos corpos
na recusa das pertenças que disfarçam prisões.
O lado escondido
abriga-se
nos segredos
e em páginas de livros
sem inventário nas bibliotecas.
Assim seja,
em Budapeste ou Paris,
em Istanbul ou Berlim,
à espera que um sinal funda as algemas
à espera
das sílabas com a raiz funda
onde os ossos encontram
a lava adormecida.
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